segunda-feira, 26 de maio de 2008

Inspiração

Tenho medo de secar

E finalmente ser nada,

Como poço solitário e abandonado

Que não sabe viver

A simplicidade objetiva de

Simplesmente estar

Martelo

“Traga-me o próximo,

Meu martelo é sedento e faminto

desTRÓI, desTRÓI

Aquilo que pode ser destruído”


O Martelo impiedoso é frenético,

Não vê perdão, nem súplica

“CoRRÓI, desTRÓI

Tudo deve ser destruído”


“Cuidado Martelo, cuidado Trovão

Nessa dança mimética instintiva

Pode ser o próximo no mundo em destruição”


“Destrua, desTRUA

Me leve na corrente louca

Solte minha alma enfim

Para o Réquiem final de meu grito!”


O Abutre sobrevoa destroços

Pedaços decreptos apodrecidos

Processo do que um dia foram coisas,

Sonhos crentes do coração desiludido


Ao longe se ouve o berro


“desTRÓI desTRÓI

Pedaços em desconstrução

Não sobra olho, braço, espírito

Medo covarde ou a cabeça da Razão”


Ao longe se ouve um suplício


“desTRUA desTRUA

O prazer de morte enfim

Quebre-me os pedaços

Pois eu não sou

Se o eu for enfim,

Ilusão”

Erudição

Se eu não for

Eu não quero saber!

Para que alimentar a memória,

Concubina sedutora e ilusória,

Com a morte do presente viver?


Se for pra ser,

Ao caminhar o saber

Apresentar-se-á para mim

Como fumaça

Entrelaça-se pelos passos,

Faz dançar ao dar graça

À caminhada que parece

Não ter fim

Aos Utópicos todos nós

E agora convencidos

Para onde vamos?

Embebedar-nos na saudade

Ao chorar aos braços da nostalgia?


E agora, convencidos

O que nos resta?

Arrastar-nos sem sonhos

Ao viver com pressa?


Quando foi que tudo aconteceu?

Em que minuto, ou ano

Ou geração maldita

A passividade sobre todos se abateu?


Como foi que as coisas assim ficaram?

Com que mentira, violência ou rotina

Nossos sonhos estupraram?


Qual promessa, ilusão ou conforto

Foi forte para nos convencer

Que a nossa amada, utopia

Não é o viver


Qual é a mentira que nos engana

Desde o principio

Qual a ilusão que nos faz brinquedos

Desde o inicio?


Pensam que só perguntas

É que nos resta

Mas o nada sempre esteve ai

A espreitar na fresta

Das pernas de nossas ilusões

Na fechadura do quarto onde

Não somos senão quando

Seremos enfim agora


No resumo

Respondo com o que nunca fomos

A pergunta que sempre é,

Aquela que ecoa na lágrima do sacrifício

Ou no silêncio da resignação


Mas quem terá coragem

E que será correndo

O ser que loucamente grita

A vida em si crescendo?


Mas quem terá coragem

De olhar de si pra dentro

Enfrentando aos berros

A própria voz de um ser morrendo?


Pois numa caminhada

Na qual não se sabe o valor da morte

Tampouco valor

A pobre vida tem

terça-feira, 20 de maio de 2008

Momento

Tanta coisa pra fazer

E eu estou aqui,

Acho que é nesses momentos

Que realmente descubro

O que é momento


O mundo

Poderia desabar em tormenta

E levar tudo o que deve ser feito

Em seu Réquiem melancólico


Mas a verdade é que

O momento só existe

Pois o delírio já se abriu

E vorazmente engoliu

Tudo o que não era vida


Parado eu observo tanta coisa

Inclusive o espaço entre as imagens

A preencher o vácuo entre pensamentos

Sentando de maneira plena

Na sincronia imprecisa das gotas de chuva


Por isso sento, paro

Observo, vejo e escuto

E as coisas que deveria fazer

Esperam ou queimam

São apenas um rabisco sujo

Na vida inconsciente

Pela qual se esgueiram


(eu estou aqui, elas não sei

Deveriam procurar algum lugar

Para estar)


No final das contas

Os momentos não existem

Aos montes como deveriam

Pois o movimento ininterrupto de tudo

Faz parecer que o parar assusta

E que o nada fazer

Excomungado deve ser

Como um erro insensível de quem não vive


Sendo assim, não faça nada amigo

E amigos seus os momentos serão

segunda-feira, 19 de maio de 2008

Delirar

Aquilo que faço não me define
Mas aquilo que sou
Define o que faço

Sou, enfim
O lampejo
De um delírio

Sobre a ação

Louco mesmo é ato

Aquilo que fazemos

Sempre tem sua pontinha de normal

Sua semente de coisa chata

Louco mesmo é o ato

Paradoxo Simples

Às vezes tudo parece tão simples

Como viver um dia!


E quem disse

Que deveriam ser diferentes

As horas sinceras

Do que pode ser chamado de vida?

E quem disse que é tão fácil

Não se perder nos haveres

Que existem por aí?


À vezes tudo parece tão simples

Como viver um dia!

Ruínas

Se já está tudo em ruínas

Como alguém pode considerar autodestruição

A tentativa daquele que das ruínas quer sair


Se já está tudo arruinado,

Como pode alguém considerar arruinar-se

A tentativa de vislumbrar

Além de paredes podres?

Como pode o ídolo apedrejado

Alguém lamentar?


Se o todo já está em ruínas

Como pode alguém considerar desperdício

Atear o fogo faminto

Sobre as cinzas

Do que nunca existiu?


Se já não presta mais nada

Deixem que se tente de tudo

Pois talvez daí nasça o presente

Que não se apresenta nas promessas do futuro

terça-feira, 13 de maio de 2008

O Nada

Quanto mais procuro

Menos consigo me encontrar...

Se aproximando cada vez mais

O Nada vem para me levar


Corro, Corro

E minha velocidade parece fazer a luz se apagar,

Quando tento novamente acende-la,

Percebo ser nela que o Nada está a se alimentar


Quanto mais procuro

Menos entendo o mundo que me envolve

Quanto mais temo e cavo fundo

Mais longe fico de entender o mundo


E se correr não adianta

E se procurar só confunde

Desisto de tentar entender o que está no claro

Para viver e sentir o mistério do escuro


Abandono a luz que me enganava

E deixo o nada ser o tudo

Sendo assim sou levado por aquilo que procuro

Passo a ser o nada sendo o mundo

Viajante

Se algum dia em alguma parada

Em alguma montanha ou pôr do sol

Algum qualquer me parar e perguntar

Viajante por que viaja para onde vai?

Qual é o motivo desse estradar?


Serei sincero como um passo sem rumo

Ao lhe dizer para procurar em meu olhar


Se o curioso insistir e teimar

Direi que sou como uma nuvem

E que é o nada que está a me orientar

Se ele não entender e insistir novamente,

Perguntado por que simplesmente não paro


Serei sincero como um passo sem rumo

Ao lhe dizer para procurar em meu olhar

Acho que Todo aquele


Acho que todo aquele

Que é demais de alguma coisa

É pouco de todo resto


E o resto não é coisa pouca

É em si

A vida

Lá!

Em algum céu azul qualquer

A vontade de viver baila sob as nuvens...

Lá, aqueles que proclamavam crenças e ilusões

Agora cantam, amam, desiludem


Os que esperam ciclos de tédio e rotina,

Para guiá-los em sua jornada,

Decepcionam-se quando percebem

Que lá os dias não tem horas, nome, nada!


Apenas o deleite ingênuo presente

Nos momentos eternos e cíclicos

Podem oferecer um lampejo

Para procurar algum nome para o dia,

Se nomeá-lo não faz sentido

É por que não alimenta as entranhas da rotina!

Então o chamem apenas de vida, baderna real

Uma criança faminta que se lambuza no caos


Lá! Lá vai a Ilusão

Para, dança e chora

Desiste e se junta à aurora

Seu nome se torna canção

Lá! Lá vão as cores

Riem, mesclam-se e amam

Numa orgia que se torna farra

Desmancham o mundo em flores


E agora que as representações findaram,

Desiludidos dos papéis e promessas,

Volto-me para a última esperança:

Levantar, enfiar o casaco e ir para casa


Mas quando me viro

Lembro-me que “Lá!”

Foram queimadas casas e casacas