domingo, 28 de novembro de 2010

nosso amor III

O amor entre nós se pôs
como um anúncio,
-um entre-nuvens- das mais belas
fronteiras a se dissolver

O amor se dispôs entre nós
como um descuido,
um entre-olhos do destino
no escuro do cinema

O amor se dissolveu em nossos corpos
e nos transferiu sua divindade
com os raios da mais doce
da mais doce liberdade

O amor nos levou até seus mares
Apresentou-nos tempestades
de onde agora enlouquecidos
não queremos mais voltar
nossa pura vaidade
no mar dentro de amar

domingo, 7 de novembro de 2010

dia de cão

dia de cão

cão não tem posses materiais
cão não tem palavra
cão só tem nome por que gente dá
cão não tem ideologia
cão não negocia
nem com vendedores
nem com amigos
nem com amores
nem com familiares
nem com bancários
nem com salário
nem com ninguém

cão não vai ao dentista
(não estou falando de cães-humanos... mas sim de um cão)

cão não tem conta de banco, nem limite estourado
cão não tem crise criativa, nem mundial
cão não tem crise existencial

cão não tem eleição
nem televisão
cão não tem patrão
nem religião

cão não tem prozac, nem insônia
não tem utopia
não tem babilônia

cão não tem nem tempo de terça-feira,
ou nome pra semana inteira

que loucura triste e urbana
seria o dia em que em vez de latir
(que é, dependendo da lua,
evidentemente uma forma intensa de blues)
o cão tivesse que usar seus esforços comunicativos
para fazer acordos e contratos
no intuito de gerir seus excrementos
ou possibilitar a viabilidade de seus tormentos
gostaria na verdade,
de ter um verdadeiro dia de cão...
a saudade é o tipo de de sentimento,
que como a amizade,
une humanos e cachorros

Rabiscos

Constituo-me
através de rabiscos
Lapsos de ser
dispersados em papéis

Perdidos em cadernos
hibiscos cruéis
distrações de invernos
verdades de verões
lampejos de eternas
outonadas sensações
Que nos levam
a um sim de primavera
que encerram em flores
o fim de uma era

Constituo-me rabiscando
através dos riscos de ser
enceno raptos perversos
pelo sabor de viver
mais uma palavra
um outro verso
um amor a se arder

Constituo-me rabiscando
apaixonado pelo que invento
Para entender criando o que me aflige sem razão
Para amar a tudo sem saber a intenção

Rabisco para tudo
Poesia é uma busca
intensa viagem brusca
pelas flores e espinhos da palavra,
VIDA...

chuva na sala

Na sala de aula chuva
sobre a mesamarrom de madeiraterra
um relógio amarelo sorri garoa
sobre um vento de olhos dispersos
seria ambrosia pensar na utopia
de ponteirosentido a primavera
seria amora pensar na história
fugindo a memória desertando um sertão
sorrio pro mundo apontando ilusão
fiapos de manga entre meus dentes
amarelo ardente sonhando azul
nalgum lugar o pôr do sol soletra
seus inventos de insano poeta
sobre o tempo atento de um florescer sonoro

Lá vai

o sentido do vento tem algo
a ver com o horizonte
uma página nova se abrindo ao acaso
o desenho fatal dos lábios da amada
no rumo incerto de uma praia tropical

a cor do mar
com sua turquesa presença
tem certamente algo que nos lembra

o dia de naufrágio
que nos trouxe a esse estágio
de tão alucinada navegação

-Lá vai o capitão do navio
Em sua veste de Madrugada
Ausenta-se do noturno ofício
E por instantes sustenta o vício
De fazer da Lua sua amada

Multiplicidade dos cantos concebidos sobre as impressões à quádrupla razão

I

Cantos insoles
solenemente invadem meus ouvidos ébrios,
segundos psicodélicos.

Apenas o som cotidiano de um tempo passado,
vida que corre, que vai e que vira,
de repente desatina num compasso desritmado.
A vida auto-falante, de filtro amarelo, cabelo amarrado.
Ela sentida ao embalo de uma canção,
repentina vida
concebida no poema plural e sativo
que aos poucos vem, vindo a quatro mãos.


II

Peixes de rio
em nossos corpos descansam,
nas ondas de frequência
onde canta a voz etéria.
Corações jovens balançam, na mecânica matéria...

temos um vislumbre aquoso de um encontro auspicioso.
um instante, um mergulho aos olhos do espírito.
Um gole d'água, uma idéia em princípio.
Uma viagem em seu início no solstício da ilusão
e em cada parte forma-se a corrente,
conecta vinil e respira inspiração,
de ideia em ideia,
pensamento em pensamento,
faz-se a torrente. de pingo em pingo,
o clube na agulha faz um respingo.
Aretha fagulha no leito de um rio,
um blues no coração colore a oração
de meus absurdos tímpanos mudos,
no vago sentido obscuro
de buscar o amor.


III
...Minha vida de fósforo folk
acende o mundo esta noite.
meu dia é véu,
veneno de manto sem estrelas,
sem constelação ou vulva morena.
costuro sem agulha meu coração banhado em éter,
lambe gilete e dispensa catéter...

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Fluxo

“o sagrado instinto de não ter teorias”
B. Soares


Às vezes acredito que o meu problema
são verdades absolutas que me assolam
momentos que vivi e senti de maneira tão intensa
que o leito confuso do rio de minha vida
abalou-se por inteiro,
eternamente.

Como se uma tempestade derramasse
sua chuva prazeirosamente
na serrana nascente
sabendo que a força ali depositada
iria, algum dia, inevitavelmente
(talvez até em uma tranquila praia tropical)
encontrar a imponderabilidade imensa do mar.

A Lua brilha
e por todas as coisas que me revelaram
algo de verdadeiro e saboroso
Sei que a vida é mais e pode mais

Sei que o que está contido
nos desencontros pelos quais me engano
é pouco perto do que se oferece
gratuitamente a todos aqueles
dispostos a estar de acordo
com aquilo que não é ilusão e desperdício

Tenho em meu peito a essa altura
uma dose (um tanto quanto histérica)
de resignação.

Sei que por aquilo que acredito e vivo
não posso esperar mais do “mundo”,
bem como da maioria das pessoas,
algo diferente de desprezo
e um pensamento disciplinadamente disposto
a me considerar simplesmente um vagabundo.

Como disse,
tenho uma consciência trágica
dessa nihilista reciprocidade:
De certa forma,
também não gosto do “mundo”
e se para eles
eu não passo de um vadio
(na melhor das hipóteses talentoso)
Eles para mim
são um bando de iludidos e desperdiçados
arrastando a miséria de suas horas

sem perceber que cada ser humano contém em si
o brilho de uma estrela
sem perceber que a cada conta a cada medo
ela se apaga
mais cedo

Não me importo sempre
com a minha arrogância.
Não posso
ser senão
a partir da paixão,
a qual me impulsiona
Rainha
mesmo nos momentos de desamor.

Por agora descansarei
na energia palavrosa de meus sonhos
Deixo o meu sim
e minhas melodias alegres de amanhecer
Para quando a madrugada tiver seduzido
as últimas trevas da noite.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

haikai da manhã no sol

Pássaros cantam

azul o céu nos cobre

Tudo Pelo sol

experimento do céu

A andorinha cruza
O frio ar de inverno

Sobre ela
imenso
E através de meus sonhos lúcidos
Uma nuvem púrpura sugerindo incenso
Cruza o claro azul
Infinito estendido sobre o dia

Lembro o que não sei
Distraído sobre o que
Esqueço em sintonia

Num mutante
momento do entardecer

a nuvem transmutou-se
em uma borboleta cinza

Que dissolvendo-se no amor
Celebra um naufrágio na maré do vento
onde o céu colore mais um experimento

mundomovente

Cheiros Gostosos
Ardidos como limão caipira
Confundiam-nos com suas cores agudas

Nossas vidas profundas
em múltiplos cenários
Sugeriam-nos mergulhos imaginários
em universos interagindo
em apenas um segundo



caiu

uma


folha

por mais um momento


nosso mundo em movimento


basta


uma





escolha

Prosa Celeste

" para vó orídia (harilda) "


Um lindo pôr do sol

colore a última despedida

Rosas vermelhas
embelezam a saudade

E no coração

agora envolvido e apertado
pelo mistério da perda


fica a certeza
de um amor de verdade


A lembrança
daquele abraço único
nos confortando
com o mais carinhoso
magrinho tapa nas costas


traz tal qual
um vento viajante

uma vontade de tomar chimarrão

e sentindo cheiro de feijão na cozinha antiga
ouvir causos e histórias

naquela prosa fantástica
que só as avós sabem tecer

Ah vozinha! Sua horta agora é de nuvens
e sua companhia seu filho menino
certamente os anjos
sentem-se hoje privilegiados
por poderem prosear com você
num desses fins de tarde celestiais

Em que o infinito
é calmo
como a vista do seu sítio
e óbvio
como tirar leite da vaca

Aprumo do rumo

Num dia
Vou compor
um soneto alexandrino
deixar de ser finalmente
um simples poeta menino

E no outro
vou buscar o charme
dos bêbados de Veneza
Quando meu lirismo está de Lua
meio maluco beleza

Zigue-Zague
Vaga-Lume
Luz Errante
Passo
e Vôo
Que não olha
para trás

Me perturba
Num instante
Um sonho Louco

viagem de palavras que se faz

em desequilíbrios vagantes
versos perturbam o rumo
de uma orquestra que busca seu prumo
no ritmo solto do mar

Pororóca Sonora

Mil borboletas
de asas grandes
e cores impossíveis
pousavam nos galhos secos

Suas vibrações
cíclicas como tudo o que existe
eram o movimento das folhas:
equilibristas do outono

captando o beleza do ar
se apaixonando
pelo vento do mar

Sinto
que viver
é estar de acordo

Nas ondas de tudo
Sinto um gosto nada

No fim da madrugada
Pode-se ainda testemunhar
o encontro da delicada
orquestra noturna

como o alegre
canto dos pássaros

Simplesmente
uma pororoca sonora
melodando o amanhecer

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

tempo zen

o som do sino

é o zen budismo

o som do tempo

zen momento

lembrança de estrada

Um dia,
em meio a uma vertigem estradeira
depois de muito canto e muita poeira

numa hora triste de sola e salto
a nostalgia do asfalto
me veio como a ressaca de outono

quando tropecei de sobressalto
uma idéia viajante
sem por que ou como

quem se assusta delirante
com a chuva inesperada
em canções na madrugada
ouvi no que diziam

algo de amor
com temperos de encanto
intervalos de viagem
suspiros na paisagem
relampagos floriam

numa tempestade azul
que encharcava
histórias de amor
o dia se anunciava inteiro

rumo ao rio preguiça
borboletas amarelas
orquestravam a tarde

e as cores
das flores do cerrado
agradecem inquietas

suas asas
nos dizem
discretas

que a melhor coisa do mundo
é fazer nada
depois descansar

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Arte e vida...

"Mas um vivo morto,
Um morto vivo.
Sou um morto
Sempre vivo.
A tragédia em cena já não me basta.
Quero transportá-la para minha vida.
Eu represento totalmente a minha vida.

Onde as pessoas procuram criar obras
de arte, eu pretendo mostrar o meu
espírito.
Não concebo uma obra de arte
dissociada da vida"

Antonin Artaud

segunda-feira, 26 de julho de 2010

utópica distopia em prece matinal

Que cada percepção
Fosse
Um satori
Zen-tropicalista
A lá gilberto gil

Que cada manhã
Percebesse
A calma da vida
Que acorda
No bocejo preguiçoso
Das multi-coloridas
Dálias da madrugada

Onde meu coração descansa
Para não despertar
Onde o vento canta
Sorrindo
Deitado numa rede
Para nos lembrar
Que não é nada
Nem pra sempre
Um dia nonada
Derrepente
A tempestade vai passar

Carta ao companheiro de viagens

Sei que você
Ainda é aquele velho sonhador
Que viajaria
O mundo todo pra falar de amor

E sendo assim
meu companheiro
Só quero lhe falar
Aquilo que sabes
Como ninguém
A vida é muito além

Seja em botecos
ou em desencontros
Seja em esquinas
Ou em madruadas
Sempre arderá
Em nosso peito de poeta
A chama indiscreta
Que nos chama para estrada

Sim a estrada não tem fim
o desencanto sim

outunnig II

triste outono

na árvore que olha

pulsa saudade

só (u) riso

relâmpago bom

rasga o mundo novo

riso vem enfim


Ah!superagui

beijos apaixonados

amor revelado

haikai estradeiro

vento viajar

ouve-se a dúvida

é ir ou ficar

Concetração Poética

Reis e rainhas
Torres e bispos caindo
Pela obra de suas artimanhas

Lambida de desordem
Atiçando a sorte
Bailam coisas estranhas

Estratégias liminares
na mente em profusão
serpenteia a lógica dos lances

Quanta concentração
Quantas chances
Por sobre as casas

Se esgueirando
por entre as peças
O Olhar Fixo

Ar de poeta
de um jogador de xadrez

desenhos de nuvem

ruído à lápis
indústrias de papel
desturbilhe
minhas sintaxes
subescreva transcorra
sobre meus versos no céu

a forma dos sonhos
é infinita
como nos mostra
a dança das nuvens

simples

Eu gosto
quando anoitece
é como se o cosmos
dissesse

Sim,
Apesar de tudo
Estamos
em movimento

Aura Inconteste

Absortos, na correria da calçada,
Passam dois, passam mil
Todos aparentam muito a fazer
Convencem o mundo de sua ocupação:

De um lado um fala ao celular,
De um modo que seria possível apostar
Que seu negócio é o vazio
E seu signo a farsa

De outro corre a moça,
Não percebe nem o meu olhar...
Lentíssimo perto do dia fluxo intenso
Que a carrega nos braços

(A máquina movimenta
Muitas pequenas engrenagens
Ao gerar a energia
Que mantém a vida toda inerte)

Meu estômago se apequena
Quase afunda em si mesmo
Ao vislumbrar, nos passos de som seco
O motivo do rio de ocupação incessante:

Todos,
Sempre,
Dia após dia
Tem algo,
Tem muito
Para fazer

Nem o cigarro de intervalo
Ou o futebol de quarta à noite escapam,
Partes da máquina de movimentar
O sentido da vida dos seres humanos

Passa mais um, passa outro
Já estamos além de mil
Saltamos à angústia
Meus sentimentos quase viram carros

Em meus olhos que teimam em negar
Serem otimizados, aferidos
Coordenados, limitados
Como semáforos da movimentada avenida


Tomo uma resolução
Ela me queima minhas entranhas
Como absinto (mas a sinto dentro de mim)
E a engulo, convicto de poder desvelar o fim:

Berro

Na parede de cada lar
Prisão ou monumento
No galho de cada enfeite ilusório
Um letreiro certeiro e luminoso

Aponta aos céus, que hoje estão azuis
Para falar a língua dos dias sem nome

O olhar da senhora a realizar convictamente
Seu cotidiano e divino trabalho
Depois do berro disse a todos
A mesma coisa...

Engoli o dia
Tudo quer dizer algo
Não para mim
Para todos

Do gim ao globo
È tudo um alvo,
Um ouvido tornado em flecha
Para nos abrir os orifícios da cabeça

Os poros da pele
Os canais nervosos do toque
Os rios do desejo
O prazer do movimento

A dança inebriante da verdade
Todo um corpo que sabe estar

E ouvir a noticia
De que nesse país,
Em alguma das ruas dessa cidade
Alguém morreu

A morte passou e deixou seu cheiro
A roupa de todos agora o carrega
E mesmo que não haja narinas que o captem
Não haverá sabão que o dissolva, e ele ficará ali

Pro inferno com os jornais
E com o linguajar dos jornalistas
Não falo de noticias

(elas estão no mesmo balaio
Em que tentam enfiar o cigarro e futebol)
A cidade canta sobre sentimentos
Na mesma medida em que os sufoca no formol

È como um derramado crepúsculo
Dourado-amarelo leitoso-transparente
Que como um véu cobre todos os prédios
Horários, compromissos e ruas

De todos os lugares se sente o cheiro
Do cabelo, das arvores dos bueiros

Todo um universo envolto e embebe,
Em uma só aura explicita
Que ninguém consegue
Ver, cheirar ou sentir

Perigo de explosão em terça a noite

Aparentemente não foi nada
Apenas mais uma explosão
Algo que acontece o todo momento
Em algum lugar que não aqui

Aparentemente não foi nada
Apenas um susto na noite
Um chamado ao telefone
Trazendo a prontidão para nossas escadas

Aparentemente não foi nada
Fiquemos em silêncio
E depois que o perigo passar
Voltemos a dormir
Amanhã ainda é dia de semana

Aparentemente não foi nada
Apenas um acontecimento
Que não será noticiado em jornal algum
Esquecimento anunciado
De um cidadão comum
Que num dia qualquer
numa decisão sem volta
trancou a porta e ligou o gás

Aparentemente não foi nada
Apenas a morte inesperada
Do vizinho de porta
Que numa terça a noite
Deu fim a sua solidão
Sirene que se perde
No intransitivo
Silêncio da meia-noite

Poço de Alucínia (II)

Vamos mergulhar no poço de Alucínia
sair de lá embriagados
Vamos sorver seus lábios loucamente
cOm o espirito finalmente liberado

Enlouquecidos voaremos
Pelo caos colorido parido pela Lua
Esquecidos da vida enfim
partiremos soberanos ao lado da verdade
que agora corre solta pela noite
livre louca nua

Pelos livre momentos sem memória
Matando a sede com sereno
Daremos um aceno ao cais vazio
Decaptando o rei supremo

Quando finalmente cansados e alucinados
Nos deitarmos em relva serena
Não mais seremos cegos e incoscientes
Acerca da cósmica verdade plena

se o vento vier

Tenho vontade de correr
E deixar que esse vento
Nos leve num súbito impulso
Nos lance no vazio sem percurso
Apenas para sentir nossos cabelos
Dançarem sob seus ritmos

Tenho vontade de correr
E deixar que esse vento
Nos leve num amar sem momento
O alento de brisa que assovia o encanto
Na nuvem de entregas
Em que a vida sem curso nos consumirá

Quando a tempestade de espantos
Num susto sem pranto
Vier derrepente
Para testemunhar
No entardecer sorridente
O desabrochar infinito
Do amor ao sol

verá
Até o amor
Desabrochar
Num eterno flutuar
de pétalas lançadas
ao fluxo
Brincante das águas

Presságio

um dia

desses de sol e brilho

ainda realizo
o sonho impreciso



de ser andarilho

nuvens II

não sei se nuvem
nada em mar desnudo
não sei se o vento
vem do próprio mundo
navega esse momento
segue mar adentro
que viver é muito fundo

no humor dos bixos

Sapo boi
não muge
em madrugada

espinho torto
restringe
o fluxo do orvalho

cotidianos dormentes
fazem brotar
erva daninha nas juntas

e relógio que escorre tempo
se enamora
em primaveras de calçada

enfim,
esse não negócio de tempo
é peleja pra coruja

quando pega de mau humor
em vias de anunciar
outono

nuvens

nuvens

inúteis

em tragos poéticos


a noite se descobre

epistemológica

hai-kai rural

Espantalho só

Vento soprando além

Vive o Chapéu

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Inutilidades

O poeta
é um desencaixado
alma que voa
em céu exilado

Quem lê poesia
é um zé-ninguém
coração perene
perdido em vai e vem

O encontro

Nasce um cinzento dia
Curitiba no céu estampada
Ressoa ao longe
Na voz da poesia
Um rouco timbre de blues na estrada

No horizonte de incertezas
Naufrágios ocorrem ao som de rock'n'roll
Poetas se encontram
Para uma festa derradeira no além

Passagem

Dia nove de abril

Viva

O Ivo

...II

Vem de onde
a intensidade de sofrer?
Vem de onde
essa mania de esquecer?

Eterno Retorno

Ver
até onde vai dar
Ir até o fim
para recomeçar

o vôo do quero quero

quero quero

quero tudo quero ir fundo

voar a toda num segundo

toda destruição
que um pensamento pode ter
toda distração
no sentimento de viver

...

desconhecimento

.......turbilhão silencioso

na boca do momento

Sopro II

A estrada
não tem fim
O desencanto
.......................sim

Sopro

Plenitude

Quietude

que leva ao silêncio

po-hermeto II

escrevo por que preciso
crio como um aviso
de que a vida é muito além


Preso por rimas
sigo a sina
da desconstrução

sou fluxo
nau
......frá
...........gio
no mar da ilusão

po-hermeto I

O que é aproveitar bem o dia?
tomar cerveja
escrever poesia

Não quero a resposta convencional
Farejo
Desvios pro baixo astral

terça-feira, 16 de março de 2010

Percepção em movimento

Estranhos passam os dias
Somos todos resquícios
Da mesma velha melodia
Somos simples auspícios
De que as coisas venham a melhorar
A viagem os passos e os sonhos
Não podem nunca parar

O que resta

Passado o tempo
assado em mente

Nos debatemos
com as ilusões de futuro
que sempre
acabam em nada

Sentido o beijo
Passado o desejo

Só o que resta é estrada

Para ela

No segundo em que
nossos olhos praticaram
uma mutúa transfusão de alma
Inflei os pulmões
Agora renovados e floridos
Pelo desabrochar
corrosivo da paixão
E soube
que conhecia aquele olhar
havia mais de mil anos

Daquele momento
em diante
Só que me pertubava
era o instante
Em que de minha boca
saltariam certeiras
As herméticas
palavras ligeiras
Para declaração
de entrega à vida

Anedota da deserção

A vida
com seus acordes de entardecer
passou em mim
tão perto
que já não sei

há dias o que se passa

São boatos que o fato
Aproveitou-se
do lusco-fusco entardecer

para desertar da realidade

A um poeta de Sanfona

"a João Pedro"

Amigo, teus braços
que desabrocham
melodias
do escuro silêncio da sanfona

Amigo, teus braços
que ponteiam
encantamentos
no limiar sereno do peito

Não param

Seus ritmos
de inspirado concertista do ar
ressoam animam encantam
a festa que não pode parar

Nos sussurros
Harmônicos do vento
Os poetas de alma sem momento
como ti

Se vestem da canção
eterna
Revelam com apenas
um acorde

um glorioso olhar de artista

Quando...

Quando
Tudo é a toa
a gente nada
a gente voa

Poética IV

es(se) mover pelo mundo
farejando
um segundo

Sou vida
(in) verso
em madrugadas
disperso

Vento clownesco

Palhaços russos
de capote em preto e branco
Passos bruscos
em neve semovente

num denso olhar
de noite escura
mil sorrisos
florescem

Pergunta

O que é a tristeza
senão
o lamento da alegria?

Só o que o posso

São tantos copos descartáveis
mirando o vazio para o outro lado da rua
tantos musgos limos e limbos
desabrochando
seu verde ventre triste
em meio às pedras sujas

Que enquanto o céu nos libera
em seu manto de azul ausência
Só o que posso é distrair-me
No branco vôo estranho
de uma lunática garça urbana
durante as claras horas da manhâ

Descascando Palavras

A primeira casca
da palavra
caiu sem revelar-me

seu gosto

tive que seduzi-la
semi-nua
para ter um vislumbre

suposto

de seu
despudor semântico

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Pra que?

Pra que soprar sem ter barulho?

Agora que já nos tornamos
Seres acostumados a dormir submersos
No seio barulhento da metrópole

Agora que o tempo é múltiplo
No calendário secreto
Que riscamos na própria carne

Fale-me do avesso
de tudo o que ressoa em meus ouvidos
para apertar o coração

(esse cantinho de mundo irreal
que só dorme
quando no limbo do entressono
consegue captar as canções da estrada
como se estas fossem
um estremecimento nostálgico
das entranhas da terra)

Fale-me do avesso
de tudo o que encurta a vista
para amargar o paladar

Quero um salto ao contrário
No horizonte aberto das possibilidades
Abrir um canto escondido
Onde o tempo se perdeu
e assim o inútil é sempre inútil
Mas no por isso menos celebrado

Pra que soprar sem ter barulho?

Quero vendavais sorrindo
na epifânia epidérmica do berro
Quero temporais cantando
o sentido último da embriaguês nostálgica

Agora sou um salto sem volta
na via-láctea das minhas ilusões
Apenas um bailado ritmado
nos tropeços do desequilíbrio
não sei se sei
o não sei cansei
se não se sei
o não sei se falei
não sei se esqueci
ah! não sei me perdi

Poética Insônia

Nos olhos
serenata do acaso

Abri
as portas do entressono

Sorri
para o que vem a deriva

Festejo
sem porque nem como

Na sombra
lunar da poesia
Adentra
o cortejo da insônia

Hipnotizado
num zumbir de melodia
Como um besouro
que telepaticamente sonha

Agora
Só que posso
Noturno
Só o que quero

É uma conversa esfumaçada com a noite

Absorte

Até onde vão
Os limites do mundo?

Temos que tomar
um absinto
Absentir
até onde é vão

Os limites do mundo
onde é mesmo que vão?

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Poetar

O poeta é aquele
que esquceu as palavras
Fluindo na distração
de estar presente

Uma flecha na mente
Suspiro certeiro
no prazer de voar