Sigo sem deixar nada Além do que fica da minha distração/ Ser humano é ser estrada na dor no amor ou na ilusão
quarta-feira, 9 de dezembro de 2009
sábado, 5 de dezembro de 2009
Flooding Window Blues
Com a tristeza chuvosa de meu estado
Concordado em deixar a poesia aos mestres
Enquanto me contentaria
Com o saboreio amargo
Dos restos poéticos que em mim ressoam
A tristeza dos detalhes me abate
Fecho os olhos
E o viver se apresenta como oceano imenso
Convidando a coragem do navegador
Para um naufrágio trágico
Fora de mim o mundo existe
Qualquer conclusão sobre a vida
Enferruja como navio abandonado
O sonho mal aproveitado
Arranha a consciência
Fino vidro cruel riscando o coração
O que me invadiu foi a janela
Uma fresta de respiro em meu silêncio
O que me inundou foi a espera
Poesia transbordando
A tão cortante materialidade
Daquela miragem poética:
A janela quebrada pelo desleixo
Era minha própria consciência em pedaços
Flertando por entre as grades que me sufocam
Com a cinzenta liberdade do céu
Só mesmo em versos
Para manter viva
A metáfora material da minha visão
Só mesmo em versos
Para compreender esse pulsar
Tão agudo do meu coração
Incontente
Por que deveríamos
Nos contentar insuspeitos
Com um pilique qualquer
Se viver pode ser
Uma embriaguez transcendental?
Interlúdio
traga seu charuto de cinismo
A margem de erro da paixão
Segue fazendo suas vítimas
quinta-feira, 12 de novembro de 2009
Comentário a (Im)permanência das coisas
escritos
correr atrás
de seus (ditos) vagões poéticos
direto
objeto
do olhar secreto
olho profundo
que o mundo vê
(sem título)
como uma constante chuva cerebral
Sigo
desprendendo o vazio das idéias
na ferida aberta da realidade objetiva
Vi prédios despejando suas estruturas
Como cimento em chuva
nas cabeças normais
todos os guarda-chuvas usados
Não bastaram frente
a força das dores banais
sábado, 24 de outubro de 2009
Esquecimento (im)próprios
Esqueci
A roupa
Certa
para o bailar
sem graça
Encontro
Na corte
Quotidiana
A desgraça
Com os normais
Corro nu
Esquecido
Das memórias banais
Suicido
Quando
Nem me lembro
Por que vim
Desertor
Riscando
as paredes
do verso
cacto
disperso
me dando opção
nado
por mágoa
rimo
por rima
escrever
desatina
incerto deserto
esse meu
coração
sexta-feira, 23 de outubro de 2009
Trasmutação Profana
Com o sorriso de quem
Pacientemente guarda um segredo
Retribuirei meus amigos,
Parceiros dessa eterna
Inspeção alquímica da noite,
Com o mais merecido
Abraço bem dado
Meus olhos (vermelhos)
Reluzindo a faísca homérica dos desiludidos
Serão serenos e incisivos
Como os de um sacerdote que vislumbrou o vazio
Minhas palavras (certeiras)
Insistindo nos velhos temas de sempre
Ressoarão eloqüentes
Como o som de tiros fatais em noites de trovoada
Nenhum mal poderá nos atingir
Nada irá envenenar nossa atenção
As preocupações foram mantidas
A kilometros de distância de nossos copos
Deus em sua onipotência
Terá abandonado os vagões de nossa noite
Às vaidades sanguinárias do amor
E no horizonte de nossas horas sem lei
Apenas a fruição cínica
Dos momentos intensos de boemia
Nesse dia
Marcado nos horóscopos poéticos
Terei aprendido a fórmula
Secreta que nos permite
Transmutar desilusão em vida
segunda-feira, 19 de outubro de 2009
Pedido abismal
Com um olhar com um gesto
Retira-me do subaquático funesto
Estado solitário de amor abismal
Seja em mim a luz dependurada
Em uma criatura luminitransmutada
E guia-me pelo labirinto de negras águas
A escorrer de meus sapatos incertos
Daí-me o ar que falta
Para o beijo ser possível
Nos braços náufragos
Seja sonho inatingível
De uma praia para descansar por fim
Seja de meu olho
Ardente e negro
Sabiamente
Um susto uma serpente
Um erro
Para demonstrar do trilho aéreo
A pista
Aos navegadores
É mapa
Que não aceita redução
A poesia
Escapa
A própria orientação
Navegar só é possível
No equilíbrio inexprimível
Sobre a corda bamba do infinito
Reflexão em data comemorativa
Pessoas comemoram a data religiosa
Aqui dentro
O que me resta é a chuva
Que cai em gotas de desilusão
O que sobra de mim
Para apreciar o frio da chuva
São palavras em desencontro
A vida é um delírio
Nesse tempo
Demasiadamente efêmero
Tudo o que vivi
De alguma forma já não é
Fico com os resíduos
E assim sigo eu
Ser residual das paixões que tive
Corpo de areia que se desfaz
Com um sopro leve e perene do mar
Como se estivesse
Sempre acertando as contas com a vida
Como se a morte tivesse
a prontidão de um garçom que me empresta um isqueiro
Vivo como se estivesse
Partindo para um lugar que não conheço
Como se cada detalhe fosse último
E cada gole
Derradeiro
Vivo como se estivesse
Me despedindo sem saber
Como se cada esquecimento fosse definitivo
E cada beijo
Meu epílogo
Sou um daqueles
Para quem
Viver é estar de partida
Justificativa
Nunca faz mal
Que seja simples
Sereno ou banal
Um poema de amor
Nunca faz mal
No máximo incomoda
Como um raio de sol que adentra o quarto
E de maneira ardente
Repousa sem respeito e farto
Nos olhos preguiçosos da paixão
Tua Beleza
É um silêncio bravo
Tempestade de esmeralda
Nos olhos assustados do silêncio
Tua beleza
É um furacão meditativo
O vórtex suplício
Da minha atenção que se dispersa
Se tu ficas
Te observo te desejo
Basta a distância mínima
Paixão como pólvora
Combustão na lava dos versos
A vida se concentra
Em tua presença
Que precipita sobre mim
O sentido tempestivo do amor
sexta-feira, 2 de outubro de 2009
Somente um Trovão
diante do infortúnio
Pois o fato dos sonhos
não serem palpáveis
em momento algum
Diz serem inatingíveis ou inalcansáveis.
Então concentra-te no que tu queres,
com o grande almejo,
de paulatina forma
eles virão.
Agora sossega
e recosta a cabeça no travesseiro.
Querendo e não contendo-te
em chorar,
chora!
Não foi nada, somente um trovão!
Lembra-te que as mesmas negras
nuvens de tempestades
jorram água cristalina;
Em meio a pedras e escombros,
o mesmo tropeço
gerador de um lago de lágrimas
revela um vale de ombros
ZARCE
(poema de um grande amigo, poeta e louco, cézar)
sexta-feira, 28 de agosto de 2009
... II
de cada poro
pelo qual me existo
É meu resíduo último
o ponto sonoro
no qual insisto
Discos da Baleia
Era uma bela casa
a vida destruiu
Era um bom esconderijo
a vida desfez
era alguma boa coisa
perdida em algum tempo melhor
saber lembrança ou suor
nada restou
II
Tudo sobra
desdobra
Em amor e sonho
passo e sola
Risonho
tempo à vida
para vida em tempo
nos diluimos diluviamos
inundamos sem intento
o acumulo embriagante
de experiências acumuladas
tudo que vida faz com a vida
Todas as curvas que impõe a estrada
III
alguém ficou
para acompanhar a demolição
(em meio a um solo de sax
e a semifusão de um martelo sem pausa)
acampanhou
Tijolo por tijolo que cai
pedaço traço ato
que se esvai
nuvem explode em chuva
gota muda
molhando o tom da vida
Com as cores da ferida
que avança
Estado Poético
Carro passa passando
palavra buscada andando
Nada do que escreva atinge
palavras para além de mim
Eu amando
Eu sem nada
Nado...
Eu pensando
Me desfaço
Esqueço...
II
Conter a experiência humana
Expressá-la realizá-la
O humano amor a humana vida
O além do amor o porém da vida
Quando o humano se trans-humana
sublima transpira profana
Os limites de
Estar
III
Toda existência é poética
As luzes dos carros
Explosivas
O imenso novelo de raízes
Nocivas
Trilhos luminosos alimentam as veias
cidades de areia
vasto cogumelo luminoso
o amor que transborda em atos
únicos
todos engolidos pelo canto do sino que vem da praça
todos reduzidos frente a primeira palavra da criança
o trânsito segue
e os horários também
IV
o carro passa andando
por sobre minha poética
Banal
Vislumbre algo
Surreal
toda existência é
poesia
pergunte algo
ao dia-a-dia
quinta-feira, 20 de agosto de 2009
Poética I
Além do que fica da minha distração
Ser humano é ser estrada
Na dor no amor e na paixão
quarta-feira, 19 de agosto de 2009
Química Cósmica
em naufrágios mútuos
Seu olhar me matou
em três tiros de crepúsculo
Te observo
Sem que você faça idéia
do altíssimo vôo que realizamos
Eu
Eterno poente
Na busca de Luz e Sombra
Em seus braços
Não sei explicar o que encontro
Sigo sem perceber
O quanto nosso amor
Cava caminhos nas entranhas do nada
Sem notar como
em cada detalhe desferido com convicção
Nos nutrimos como bixos
Do mais intenso cerne do afeto
domingo, 9 de agosto de 2009
Sobre nós
que sabemos que a vida é movimento
transitoriedade dolorosa das cores
Quanto a nós
que sabemos que amor é dor
finitude prevista pela bufonaria do tempo
Não nos resta nada
A não ser se amar
Loucamente
A não ser se amar
Simplesmente
Tic-Tac
Cessa o sono
Instante
Tanto
Tempo
Tempo
Tanto
Tanto
Tempo
Tempo
Tanto
Tanto
Tempo
Tempo
Tanto
Sendo o sono
Tempo
Tempo sono
Instante
Tanto
Tempo
Tempo
Tanto
Tanto
Tempo
Tempo
Tanto
Tanto
Tempo
Tempo
Tanto
Não cessa tanto
Canso
O tempo segue
Instante
Tanto
Tempo
Tempo
Tanto
Tanto
Tempo
Tempo
Tanto
Tanto
Tempo
Tempo
Tanto
.
.
.
O descaso dos relojoeiros
Em noite de descaso
Dos relojoeiros do destino
Adiantou-se o tempo
Do encontro repentino
Entre seres que irão se dissolver
Por se amarem até não mais poder
Noção
Olho ressecado
Coração
Danado
Risco a espreita
o frio
vazio
deserto
Risco no horizonte
Ardor
pulsante
incerto
Sentir queima
Viver mata
Wintercotidianamente Falando (Sendo)
como se, para inalá-lo
fosse necessária uma vontade sobre-humana
Os pensamentos antes tão simplesmente à superfície
Agora afundam
Como chumbo chumbo condenado em um mar de leis mundanas
A trilha sonora é o silêncio
das palavras que se lançam ao ar
antes de serem aptas ao vôo
E assim simplesmente caem e morrem
Gestando ao redor de cada ser humano
uma aura fétida proveniente do cemitério de aves caladas
Assentando cada relação humana
Dia Seguinte
Que a vida oferecida pelo mundo é pouco
Perder meus dias no trânsito
E o poder da minha convicção
Em um trabalho que me tornará ranzinza
Pra mim não basta
Quero voar tão alto e tão além
Para cair rápido tal qual um raio
Diretamente para saber ouvir
A história de vida de um amigo verdadeiro
Bailando sempre no contratempo da rotina
Quero fazer amor no cotidiano
Iniciando meus dias dizendo eu te amo
E não me perguntem para onde vou
Ou o que pretendo
Sou relâmpago buscando intenso
uma maneira de precipitar amor
Deixem as preocupações para quem almeja
Controlar o desencontro de caminhos
no tempo ausente do dia seguinte
terça-feira, 21 de julho de 2009
Combustão
E a morte em sua ausência
Seu amor é minha essência
E seu beijo meu naufrágio
Estranhezas afloram sem parar
Me carregam tempestivamente
Sua boca Seu corpo Seu olhar
Queimam comigo reciprocamente
A vida explode e o mundo segue
Além do nosso encontro não há nada
O tempo é brincadeira breve
Em nossa combustão descontrolada
quarta-feira, 1 de julho de 2009
Precipitação
O quanto meu coração fica contente
Por ouvir-lhe as notícias dessa vida
Que seja remorso sonho ou ferida
Qualquer coisa que me conte
Relate crie ou monte
Encontrará em mim um ser atento
Pronto para sorrir exatamente no momento
Alegre
Em que a paixão se precipita
No seu beijo com o sabor da tempestade
Amor em Movimento
Que me trouxe algo bom
Para sentir, para amar
Ouvir atentamente aquele som
Que sopra sempre sem parar
No ouvido de quem está apaixonado
Ontem foi o seu sorriso
Que me veio como aviso
De que a noite sem você
Seria dor
De em saudade se perder
Enquanto sonharia com seus lábios
Amanhã a vez dos nossos medos
Que ardendo cairão no esquecimento
Como a folha derradeira em movimento
Que encontra a calmaria no amor
Exagerices Verdadeiras
Se não vieres
Meu peito explode
E não haverá caleidoscópio
Capaz
De dar-lhe algum sentido
Alterações Alquimícas da Paixão I
Revela-se a cada passo de aurora
em uma escada para lugar nenhum
Ressoa minha cabeça vazia
Pelos momentos da sua boca macia
Para evaporar minha alma ardente
Seu olhar me engole
O Amor me transforma
Transmuta
Transborda
Alquimicamente
Todos os efeitos
de uma paixão
Súbita
sábado, 23 de maio de 2009
Terrorismo Humano
Há a necessidade imperativa
De se lançar uma bomba
Com raiva e calmamente
Dentro da boca do Mundo
Pedido
Uma paixão que me incenere o coração
Que arranque sem piedade
Aquilo de amor e humano que em mim reside
Não temo as destruições e cataclismas
Nem o ardor da paixão cortante
O que me angustia é ser frio e cético
Um ser podre que nem berrar consegue
Tudo está em jogo
No desafio de tornar-se vivo
Minhas crenças e deveres
Meus medos e covardias
Tudo arremessado
Lançado e jurado
A um turbilhão
Que me engolirá por fim
Consequências
estourou o vidro do prédio
faltou energia ao sinaleiro
escorreu cimento do relógio
Floresceu
uma colméia de flores
em algum ponto do universo
Um jeito de amar
E seguir
Lidar com o fato
de que poucos têm ouvidos
para ouvir
e muito menos alma aberta
para entender
Esse meu jeito de amar
Que se recusa a passar por forte
Que se entrega de verdade
Quando os outros são só palavras
Que já tentou negar a si mesmo
Mas ao fazer isso
Tornou-se mais do que sempre foi
Sob o céu azul de nuvens quiméricas
espera sim um olhar
tal qual uma estrela supernova
Para arrancar da minha boca
declarações e poemas
Sorver de meus olhos
Juras e lágrimas
abismos
ou compassos
de uma canção que vê
com os ouvidos de um peito rasgado
Tarde de Outono
E caia do céu cinza
como se vinda
De um mundo que não é esse
Para ouvir de mim
O nada de tudo
Que a Ilusão finda
E a estação que o nosso amor
Anuncia
Seja passagem,
Um salto de uma nuvem a outra
Por ouvir de mim
toda a verdade
Que desejo berrar a vida
toda a coragem
Que desejo arrancar do espelho
Serena e tranquila
Em sua inominabilidade
de ser meu anjo
No sonho de uma tarde de outono
Despedida
Por cada palavra
de nossos encontros
Por cada abismo
de nossos olhos
que se cruzam
Por todo os espaço
do não dito
que nos transborda
Até pela dor
que me fica
Sufoca
No silêncio sem jeito
Da nossa despedida
segunda-feira, 4 de maio de 2009
Virada Cultural
Que fossem passaportes à experiência lisérgica
De estar onde estive nos últimos dias
Queria encadear as letras
Como notas musicais de uma harpa edifício
Para transportar o leitor ao coração da anarquia
Tudo era novo
E no óbvio a essência de seu próprio avesso
Andei divagando por ruas imundas
Ao som da música transcendental
Dancei diferentes ritmos e sensações
E nunca me senti tão louco
Ao celebrar a cultura racional
Saltando de momento em momento
O tempo suspendeu-se
Para o mesmo não lugar
Onde decidiram descansar as regras
(Tudo é válido em meio à multidão)
Enquanto a orgia sonora toma as ruas de entrega
Equilibristas sobrevoam a Av. São João
As pinturas que Dali nunca imaginou
Desfilavam como sendo banais
E as profecias que Blake jamais vislumbrara
Em um suspiro de segundo se tornavam reais
A antropofagia de Oswald de Andrade
É celebrada em sua forma máxima
O pudor de devorar
É esquecido
Enquanto o rap trepa com a estética esotérica
Nos corpos, corações e ouvidos
Daqueles celebrantes a dançar dionisiacamente
Nas ruas todas de um centro urbano monumental
O que se vive em meio lixo cosmopolita
È a supra-realidade além de qualquer sonho surreal
Não se pode esperar nada que não seja isso
Estamos pós-apocalipticamente criando e dançando
Em meio a tudo o que é vivo
Em meio ao lixo de osmose que nos transmuta
Se é cidadão sendo mendigo
Mendigo cultural
Bandido transcendente
Aqui todos estão juntos
Dominando o mundo
Na paixão de um momento evidente
Correm os palhaços pela parede de vidro do edifício
Suspendem-se redes para que artistas assistam shows performaticamente
Dormem seres humanos e seus filhos em meio a lixo babilônico
E Reginaldo Rossi canta a música que toca o coração do povo
Tudo vale onde nada é
E se o mundo existe em algum lugar
É aqui que ele se realiza
terça-feira, 28 de abril de 2009
Aos Putas Velhas
umedecendo o papo
Nada sério
de amigos a celebrar o sol da tarde
Enquanto passam aviões de compromisso
Chovem noticias de crise e epidemia
Dos televisores
e jornais
A conversa guarda-chuva
no papo das calçadas banais
nos dá a tranquilidade
para admirar aquilo que merece
nossas palmas e ais
Ritual Matutino
Fico na cama até o sono me dispensar,
Afinal hoje não serei herege com o pai dos sonhos.
Ao invés de maltratar a manhã com o berro de despertadores
E com a corrida sonolenta atrás do ônibus
Prefiro abrir mão de tudo,
Tudo o que não é vida.
O mundo já está funcionando,
Quase que ouço o som do trânsito
A bronca dos chefes e professores
E o som abismal
Dos bocejos de todos aqueles
Que não gostariam de estar onde estão
Abro mão,
Sigo tranqüilo ao meu ritual
De saudação à vida e à manhã
Uma xícara de café,
Ler um poema de Drummond
Olhadelas ao céu matinal
E acordes de um samba bom
Cuidado e nada feito com pressa
Assim
Começo o dia poeticamente
Na ressaca imoralmente mágica
De dizer não pro mundo
e sim pra vida
segunda-feira, 6 de abril de 2009
Poema Sincero
E um comprometimento real
Com todas a minhas verdades
Mesmo aquelas ainda não formuladas
Sou um pedaço de confusão
Como todo ser
Sou sincero quando convicto
E sempre convicto
frente à verdade que reside em mim
Não lamentarei a efemeridade
Nem a fragmentação
(apenas variações da mesma
antiga superficíe da experiência humana)
Nem por isso afirmarei verdades universais,
Não esperem de mim enunciados ou postulados
Sou tudo e nada entre um cientista
e um poeta
na busca de condensar-me no resíduo final de tudo:
O amor
Em qualquer pedaço real da vida cotidiana
Encontro a fagulha que torna todo o ser
uma estrela,
Na mesma medida em que meu estômago
evidencia certo asco e repugnância
Para os inconscientes em relação à vida
Como se me considerasse
Mais esperto, mais convicto
Mais sincerto e mais humano
No mesmo segundo
Sempre provisoriamente
me envolvo de piedade
(Por mim e por todos)
A ponto de me achar patético,
Apesar de claro, óbvio e verdadeiro
Como deve ser um gota de chuva
Resolvo minha equação
Nos termos da minha intuição
Me sinto verdade empática
Asco prepotente
Tudo no mesmo salto
Em que me sinto amar
Em que me descubro
Humano
A vida traz em seus poros
Sementes o suficiente
Para fazer brotar de tudo
Nas mais diferentes superfícies
Sendo eu parte revoltada
(por vezes histéricamente resignado
por outras sinceramente apaixonado
Um lunático que passeia entre o cômico
E a doçura demasiada que me torna enjoativo)
Sendo eu parte...
Apenas germino o que o vento me sopra
sou hoje amor, sou sempre amor
que frutifica diferentemente
dependendo da estação,
da semente e do PH do solo
A verdade
É que mesmo sendo abstrato
Sou sempre real
Pois abstração não existe
Quero papel e caneta
bons amigos que me entendam no olhar
Madrugadas para beber impiedosamente
E no fim, no começo
ou em qualquer momento
Uma paixão, Um amor
Sereno ao ser corrosivo
Para me fazer esquecer de tudo
Enquanto me torno
Mais de mim mesmo
Outunning
dentro de um dia único
tantas memórias
em visões súbitas
Em meu modo de ser Outono
Por vezes
caio
Em outras
Vôo
Liminar
Pois que já não apenas
Aquele que sempre fui
Mais de mim
Menos do que já não era,
Aquilo que devia ser
Reflexividade
Sentir sono
Ou perceber-se ao ingerir comida
Que coisa estranha
estar apaixonado
E sentir muita vontade
de fazer algo idiota
Que coisa estranha
é essa vida
Que nos semea sentimentos
E nos tira de si
Para nos levar vendados
Ao salão dos espelhos lúcidos
A poesia em mim
Alimento e Analgésico
Da parte
Que é, em mim
mais humana
Imperativo
do destino
do ser
do divino?
Não sei
Faço poesia como um escravo
da parte humana em mim
Como um qualquer que pára
e olha as nuvens
Transmutação do Sono
Como parte
de se fazer
existir
Mas temos
certamente
De admitir
Que viver a noite
Seja em poemas
em copos
em flertes
ou em conversas
É como transformar
o apito da fábrica
e o ritmo de um relógio
em jazz
domingo, 29 de março de 2009
Solidão em compasso II
traz desejos irrealizáveis,
como um bufão
que faz piadas de mal-gosto
na busca de se auto-afirmar
Ao sentar-se na mesa
Para um café de fim de tarde
Nunca quis tanto
Estar com uma companheira de longa data
Apaixonada, desconhecida, linda
E boa de conversa
Tudo isso para que
quando fossêmos tomar
nossas xícaras de café
houvesse apenas uma vontade de ficar em silêncio
para deixar que os acordes de um samba,
bem triste e auspicioso,
conduzissem as mensagens de amor
que navegam no oceano a separar nossos olhos
Solidão em compasso I
A luz amarela
escorre da lâmpada
para iluminar
a mim
e meus instrumentos poéticos
Enfim
Após instantes intensos
de angústia
Posso escrever
Chove gravemente
sobre o pôr-do-sol
Que resistiu
sereno
Para ir embora
apenas
Saí de casa
quando ainda não chovia
Até meus cachorros,
sempre tão afobados
entenderam
a seriedade dae meu olhar em agonia
Saí para o jardim
Pois nada me restava
Todos os meus livros
pareciam desinteressantes
Todas as experiências
não valeriam a pena
Nem o violão me seduzia,
Jogar minha angústia sobre ele
seria uma desfeita
E não havia nenhuma paixão
para ser cantada
Desta vez
Sentar e meditar
Seria como um tiro
Na própria cabeça
As cores de um pôr-do-sol torto
me conveceram.
Cinza a nuvem de anúncio chuvoso
Azul o que permanece
Púrpura o crepúsculo
Visto por entre casas de concreto
Púrpura a luz do poste
Começando a se aquecer
Foi a chuva que garantiu
Uma solidão proiveitosa
poética e minha.
Seu barulho
escorrendo em meio ao vento gelado
Cantava a existência da vida
apesar de tudo
Um Baden-Powell
de início de noite
Narra em um compasso
A tarde que se inicia
em silêncio,
banha-se em jazz
e faz nascer,
escondida pelas nuvens,
a lua sob anunciação da bossa nova
segunda-feira, 23 de março de 2009
Canto aos poetas
Sei que a gravidade
dos seus olhos
(sombreados de amor)
Talvez os levem
A um dar de ombros sereno
Ou a um flerte furtivo
com a moça que passa
Sim, senhores
apesar de tudo
o passear das moças
apesar de não tão despretensioso
como outrora, ainda está ai
Mas chorem poetas,
Quando a Lua não surgir
e solitariamente
Vier uma lágrima de desanuvio
chorem este pranto,
que vos canto.
O mundo ruiu,
Continuou assim desde a tempos
e tem teimando
em arrastar a vida toda ao abismo
Não nos resta o luto de sétimo dia
O morto já foi enterrado
E sua memória é agora longínqua
O ar nos falta
O amor também
Vós que cantais
a angústia
do desencanto que pairava
Agora não veriam fragmento
do que um dia foi lamento
Tudo muito pior
E auspiciosamente o mesmo
E assim me encontro aqui
a lhes dizer:
Chorem poetas,
Pois ao reluzir de suas lágrimas
chorarei também!
terça-feira, 10 de março de 2009
segunda-feira, 9 de março de 2009
Aquilo que bem sei
Pode ser conhaque
Que seja vinho de preferência
Mas tragam-me algo para beber
E uma companhia serena
Que me ouça
E não me queira tirar
De onde estou
Alguém que apenas fique
Comigo
Solitário
Que há o sol,
Que há lua
O vento e a nuvem
A chuva e o poente
Disso eu sei bem
Que são eles que me levam
Ao sorriso de peito aberto
Eu bem sei
Por hoje não me tragam visões
Só quero algo para beber
Que seja quente e deixe leve
A cabeça
A melancolia residente
E também um amigo
Solitário mas nem tão calado
Alguém que ouça e beba
E me diga ao findar da conversa
Para que eu olhe
Calmamente
Alguma estrela
domingo, 8 de março de 2009
Desapego Temporal
já foram feitas
Todo o mundo
vibra de acordo
com aquilo que ja é
Preocupações
deixadas de lado,
apenas a navegação
em presença
Quando a memória
é superficie descartável
sexta-feira, 6 de março de 2009
Sola e susto
são o método de conhecimento do mundo
O susto de meus tombos
Nada mais do que a lição da estrada
quinta-feira, 5 de março de 2009
Se for pra amar
que seja o berro
vindo da boca do coração
a música
que celebra a entrega
Se for pra amar
que seja a história
um conto de loucuras
destruindo tudo aquilo
que um dia existiu
Que sejam queimadas
na combustão explosiva da paixão
todas as mediocridades e covardias
um dia presentes na alma dos amantes
Se for pra amar
que seja para encantar a vida
Palavras sobre o Viajar
todas as experiências, crenças,
valores, compromissos e idéias
São fervidas na panela do risco
Dionisificando
a certeza incerta
de entregar-se
ao baile das desfragmentações
torne vivo o momento
ao embriagar-se
na essência apaixonante
de nascer e morrer
Voar pelas planícies
(instantes sem tempo)
no amor intenso
Por tudo o que exala
paixão e vida
Visão fatal
Momento de vida apaixonante
Trouxe-me o horizonte em morte no olhar
Será que estou assim por ter sido o único
A entender a dança
Feita a dois no céu azul?
Como voávamos,
Em valsa matine
Pelo céu de uma cidade triste?
Voei e vi o vôo
Sonhava acordado
Saboreando a carne da fruta
Com todos os planos
Sendo abandonados na mordida única
Os olhos da morte vieram então me tocar
Engolir-me como os dela
Que quando fechados estavam
Abriram todas as fechaduras do coração
Flores do Jardim
No cabelo negro mágico
Da fada forasteira
Brinca no ar
Nuvem de crepúsculo
Leva contigo
O meu sonho bom
Nasce o sol
Emissário do horizonte
Conta histórias orientais
Ao povo que te espera
Caído no pó da estrada
Ficou o coração,
Doce entrega furta-cor
Toda alma apaixonada
Espera mesmo é por você
Oh aurora do meu sonhar
Sol e dança
Em céu de lágrima,
Doce onda de mel
Veio atentar-me a boca
Dança em meus olhos
Para ficarmos juntos
Em um momento de entrega,
Dança comigo
Dama livre em sonho
Fagulhas de fogo róseo
Queimaram de mim as artérias
Infarto sorridente
De um peito a mergulhar no sol
terça-feira, 3 de março de 2009
Apenas o que interessa
E de uma vez por todas
Deixo todo o ceticismo de lado
Pergunto aos céus e aos astros
Rendo-me aos arquitetos galácticos
Pois só o que me interessa é amar
Me pego em devaneios tolos
Sobre a nossa conexão astral
Sinto saudade de abraço dado ontem
Entrego todos os meus sonhos poéticos a você
Pois só o que me interessa é amar
Apaixono-me sem saber história alguma
Me espanto pelo amor à primeira vista
Não tenho receio
E entrego-me na trama de sincronicidade
Pois só o que me interessa é amar
Quero subverter seus planos
E o que os meus
Sejam implodidos pelo seu abraço
Quero dar com você
Diversos passos na estrada da vida
Quero ver o amor explodir
Um prisma de cores no horizonte
Para nos guiar na caminhada sem medo
Tudo isso eu quero
Tudo isso eu sinto
Pois só o que me interessa é amar
O feitiço que virou contra o feiticeiro
Que acredita que tudo passa
Que vive cantando o fragmento
Que tudo,
Tudo é apenas momento
Agora gostaria que fosse eterno
Que vivesse além do mundo
Que a vida inteira durasse
Que nada,
Nada desfragmentasse
Eu que falo em mudanças por segundo
De passos estradeiros de andança
De efemeridade e momenteio
Da vida que se vive em dança
Agora gostaria de morrer com você
Na cidade que escolhêssemos
Para nosso amor atemporalmente viver
Onde ficaria nossa paixão cravada
Todas as vezes
Que nos movêssemos juntos para a estrada
Tudo ruiu
Inclusive a ruína
De achar que tudo se desfaz
Agora desejo que o castelo de areia
Dure para sempre
Na praia de onde
Se pudesse eternamente
Contemplar seu oceano
quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009
Luz Ébria
em uma solidão lúcida
arrancou das conclusões
a esperança gratuita
das letras
A lúcidez,
que na clareza
não deixa de ser ébria
encanta
acalenta
espanta
tudo o que não vibra
toda a estagnação
de não estar entregue
Carona Noturna
manto negro de mistério
envolvendo a entrega da espera
Pegando carona de incógnitas
em estradas desconhecidas
sigo o caminho da trilha do acaso
Entregue na possibilidade,
os passos e o espírito
São envolvidos pela realidade
dos inúmeros acontecimentos
Entrelaçando-se na trama das sincronicidades
Arremesso uma caneca de consciência
No olhar do Infinito
terça-feira, 17 de fevereiro de 2009
Gosto da Pêra
a saliva é ativada pelo
mero vislumbre sensorial
Depois vem o vácuo
inexplicável relação com o real
Até o momento do toque
que é eclipsado
pelo tremor doce da mordida
(a perfuração de uma
nuvem de areia)
Seguido por explosões
sucessivas do melhor
dos jogos artificialmente exóticos
Um vale que se derrete
a cor verde lisico
que toca, transborda
gosto enfim
relações neuro sensitivas
pula o verde momento
dente com pera
pera no dente
lingua na pera
mente,
tudo se afina
gestando um gosto
todo movimento é um rio
terça-feira, 13 de janeiro de 2009
Recado
Estou sacando
O lance da vida
Nascendo sempre
dia-a-dia
Estou poetizando
A entrega, querida
Não me venha
Com palavras
As histórias existem
O mundo é assim...
Encantado sem tempo
Sem fim
Diga
aos calendários perdidos
que não mais voltarei
Cante
para as horas que se esticam
que a vida encontrei