terça-feira, 21 de agosto de 2012

Um poema longo, para quem estiver disposto

Transbordar em palavras, como sempre
as divagações desse meu eu atribulado
que segue tropeçando, inconsequente
em suas próprias escolhas do viver apaixonado

Sou incapaz agora, e sinceramente assumo,
de ter ao menos vontade de transcender
essa minha condição humana, demasiadamente humana
que dissonantemente reverbera em meu viver.

Sou uma alma condicionada, eu sei.
uma folha seca ao vento, menos importante do que palha da rua
mas por entre os grilhões de minha prisão ilusória e passageira
quero ao menos festa e sorriso, prefiro encantar
cantar, gozar e viver: correr o risco
dessa vida que se apresenta agora como vida
como café, como prazer, mesmo que temporário
quero conversa sem itinerário, quero madrugadas!

Tenho quedas platônicas por todos os naufrágios e epitáfios impossíveis.
Quero risada, poema e lágrima,
e se esse for o preço, quero também a ilusão,
esse tema cíclico na eterna realidade de inspiração e expiração.
Quero movimento e assumo as translações desse ser em sofrimento...

Por agora não quero me sacrificar pelo paraíso futuro,
pela minha vaga no mundo espiritual.
Pois sei  que de algum modo estranho e caprichoso,
no meu ponto de vista iludido e apaixonado,
ela já está garantida em algum lugar e tempo de toda criação...

Pode Krishna me amar e me aceitar,
mesmo com meus desvios, caprichos e imperfeições?
Não almejo ser seu devoto puro e íntimo,
quero apenas cantar teus santos nomes
e escrever poemas sobre sua perfeita e maravilhosa
obra-prima genial chama vida, misteriosa e imensa vida...
Ser talvez, depois da morte, um átomo das melodias de sua flauta
e se não for possível, encarnarei novamente
para amar, me apaixonar e fazer poesias
sobre as sutilezas maravilhas e heresias
que emanam sempre de sua pessoa perfeita e absoluta

Talvez- ou certamente- minha alma não sirva agora
para seguir os princípios regulativos
para principiar os passos definitivos rumo minha libertação final
mas quero te servir, ó pessoa suprema...

Mas será que posso amar a vida sendo permissivo?
mesmo mantendo banalidades em meu eterno ser transcendental?
Ser ao mesmo tempo corpo, mente e espírito?
Será que posso ser ao mesmo tempo imperfeito e consciente?
Dando passos mansos, sossegados e silentes na trilha austera da espiritualidade?

Toca o sino, muge a vaca, o sol se põe...
se tudo isso é Maya, e eu sei que é,
pois quem sou eu para discordar das escrituras?
Concluo impermanente que ainda tenho karma pra queimar....

e o que pode o ser imperfeito e impermanente, em meio as escrituras
perante as criaturas- almas também condicionadas - senão amar?
amar e esquecer, amar e malamar, amar desamar amar?
amar aquilo que o mar traz à praia, àquilo que se perde na maré incessante dos dias...
o que posso eu, ser em rotação universal de caprichos e impurezas humanas, senão amar?
amar e assumir, melodar e sorrir, como sinceridade sobre meu devir perigoso?
e farejar no caminho auspicioso algum traço da liberdade perdida?
Será que tudo fica pra depois? pra depois da morte? pra depois da perfeição?
será que o cotidiano em combustão não pode ser libertação?

Quero ser suave e ameno como um fim de tarde, como uma conversa entre amigos,
tranquilo como um céu azul, manso como um sorriso
quero estar além de todo o julgamento, moralismo e punição
além do pecado, além do pensamento, além da mente, além da ilusão
e transformar em calmaria, transmutar em poesia
esse lúcido tormento da matéria condição

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

O Sol esperava radiante


O Sol esperava radiante,
Tornando mais quente
Aquele dia frio de inverno

Saímos pelas ruas do centro
Cantando alegremente
Os santos nomes do senhor

Com três violões uma mridanga
Címbalos e muito amor
Estremecemos
as estruturas ilusórias da cidade

Embalamos o amor latente
No coração de cada cidadão vivente
Que se deparou com aquele cortejo
Alegre colorido e dançante...

Alguns estranhavam outros sorriam
Mas ninguém era capaz de ser indiferente
Àquela onda devocional

Como o violão em punho
Fui mergulhado no néctar
Pelo qual sempre ansiei

Associados maravilhosamente
Eu e amada fizemos parte
Daquela multidão singela
Que acordou mantricamente
As ruas de Curitiba

Fazendo ressoar aos quatro ventos
A vibração transcendental do mantra
Hare Krishna Hare Krishna
Krishna Krishna Hare Hare
Hare Rama Hare Rama
Rama Rama Hare Hare

Como se tomados por uma alegria
Maior do que nossos sorrisos e vozes
Fossem capazes de conter, cantávamos
Sem nos importar com os olhares espantados

Apenas tendo consciência
De estar fazendo aquilo de melhor
Que poderíamos fazer de nossas vidas:
Entoar os nomes do senhor Krishna

Trazendo paz para o coração do centro
Assim como no centro do coração está  paz

Senhor Caitanya certamente se alegrava
Ao ver sua profecia amorosa ser cumprida
Ainda que de modo simples e humilde

Quem precisa mais
Do que algumas  melodias
E uns poucos instrumentos
Quando se tem o Maha-Mantra
E associação dos devotos?

do amor e suas trilhas nectarosas



Frente a mim um texto a ser escrito,
Como tantos outros já tiveram
Um sagrado tenso e antigo rito
Que pelas eras foi levando o grito
Daqueles que não eram

Um mente turbulenta, uma página vazia
Um prazo, dez dedos e muitas inquietações.
Além das brumas e dos castelos de ilusões
Passeio pelas teclas como um caminhante noturno:
Sem destino a não ser fruir
A própria noite incansável de seus passos
Que o leva a seguir o devaneio silente
Fluindo aquoso de seus atos insensatos

Enquanto lá fora chove uma água fria
Tento precipitar meu coração em versos brancos
Encontrar a poesia sentir a consciência
No que ela tem de desperta
Ser na tarde uma janela aberta

Sei o quanto essa formação moderna me atrapalha
Vou tomando decisões fatais e Investigando minúcias transcendentais
Sem ter certeza alguma sobre meu rumo definitivo
Tendo apenas vislumbres da possível saída tento
Apontar as velas para o vento que está a favor
Buscando encantar o prumo mundano
Assumo os riscos do meu destemor

Leio Pessoa, me inspiro...
Algo dentro de mim clama por poesia de modo insistente
Talvez ateasse fogo derrepente, sem motivo
Se em minha existência eterna
Não pudesse buscá-la:
Essa musa incerta, fugidia e louca
Que me assola o corpo a alma e boca
Por detrás do sentido inalcançável das palavras

Através dos dias, vivo os conflitos internos de existir
Sou como pássaros cantando
Mas que desejavam apenas florir,
Caso pudessem ser como as plantas
Caso pudessem esperar a primavera

Das escrituras védicas tenho recebido sinais
Que se entrelaçam com a vida e nunca são mais fortes
Do que aqueles caminhos irrefutáveis que ela pode me apontar

Da minha mente 
- incansável fonte de turbilhões e trapaças-
Sofro um anúncio de impermanências vastas:
transformações derradeiras e maravilhosas
surgindo, brotando nascendo
do amor e suas trilhas nectarosas

Ritmos do centro


Tranquilizei-me ao pé de um cactos
Sem espinhos busco entregar-me ao poema
Se tudo isso que sonhei em forma de amor
É que aquilo que se apresenta
No incerto rumo de meu caminho,
Sem questionar aceito.

Irrompendo o silêncio
Pousou um pássaro de luz
No ombro calmo de meus pensamentos.

Para escrever tenho de me tornar,
Incorporar a experiência da idéia
Para escrever tenho que amar

Eu barbudo e cabeludo,
Sempre meio desajeitado e tropeço
Carregando caixas de papelão
pelas ruas movimentadas do centro
Mais uma vez de mudança,
Mais uma vez em movimento

Desta vez saindo do centro,
Centro este que recebeu de ruas e noites abertas
Todos os instantes e exageros
Do meu eu esparramado,
Dilatado, distorcido, embriagado
Apaixonado por viver tranquilamente
Sua certeza lúcida de ver além da ilusão

Observando seu pôr-do-sol entre prédios
Ao lado da amada enamorando-se
Pela lua cheia, parado à beira da calçada
Enfrentando como quem navega
Seus mil olhares e destinos anônimos
Suas vidas que se cruzam e se atravessam
Vindas sempre de outro lugar
Sempre de outro lugar
Para aqui, de um modo meio caótico e intenso
Se movimentar em um fluxo inevitável.

Em um frenético encontro de instantes
Quantas canções já foram cantadas
Em nome dessa angústia estranha
Que nos causa seu pulsar de concreto,
Gasolina e compromissos...

Mas de um modo estranho
Sou apaixonado por você
Ó Curitiba,
Cidade grande de meus devaneios
De meus sonhos e anseios
Cidade grande da minha rebeldia
Minha eterna quarta-feira de cinzas
Meu blues atravessado, minha poesia
Minha tarde chuvosa, minha distopia

Cidade grande,
Centro: onde fica a paz do coração?

Por todos os passos que compartilhamos
Viajamos e trilhamos juntos
Te escrevo assim como em mim
Você inscreve seus ritmos irrefutáveis