segunda-feira, 26 de julho de 2010

utópica distopia em prece matinal

Que cada percepção
Fosse
Um satori
Zen-tropicalista
A lá gilberto gil

Que cada manhã
Percebesse
A calma da vida
Que acorda
No bocejo preguiçoso
Das multi-coloridas
Dálias da madrugada

Onde meu coração descansa
Para não despertar
Onde o vento canta
Sorrindo
Deitado numa rede
Para nos lembrar
Que não é nada
Nem pra sempre
Um dia nonada
Derrepente
A tempestade vai passar

Carta ao companheiro de viagens

Sei que você
Ainda é aquele velho sonhador
Que viajaria
O mundo todo pra falar de amor

E sendo assim
meu companheiro
Só quero lhe falar
Aquilo que sabes
Como ninguém
A vida é muito além

Seja em botecos
ou em desencontros
Seja em esquinas
Ou em madruadas
Sempre arderá
Em nosso peito de poeta
A chama indiscreta
Que nos chama para estrada

Sim a estrada não tem fim
o desencanto sim

outunnig II

triste outono

na árvore que olha

pulsa saudade

só (u) riso

relâmpago bom

rasga o mundo novo

riso vem enfim


Ah!superagui

beijos apaixonados

amor revelado

haikai estradeiro

vento viajar

ouve-se a dúvida

é ir ou ficar

Concetração Poética

Reis e rainhas
Torres e bispos caindo
Pela obra de suas artimanhas

Lambida de desordem
Atiçando a sorte
Bailam coisas estranhas

Estratégias liminares
na mente em profusão
serpenteia a lógica dos lances

Quanta concentração
Quantas chances
Por sobre as casas

Se esgueirando
por entre as peças
O Olhar Fixo

Ar de poeta
de um jogador de xadrez

desenhos de nuvem

ruído à lápis
indústrias de papel
desturbilhe
minhas sintaxes
subescreva transcorra
sobre meus versos no céu

a forma dos sonhos
é infinita
como nos mostra
a dança das nuvens

simples

Eu gosto
quando anoitece
é como se o cosmos
dissesse

Sim,
Apesar de tudo
Estamos
em movimento

Aura Inconteste

Absortos, na correria da calçada,
Passam dois, passam mil
Todos aparentam muito a fazer
Convencem o mundo de sua ocupação:

De um lado um fala ao celular,
De um modo que seria possível apostar
Que seu negócio é o vazio
E seu signo a farsa

De outro corre a moça,
Não percebe nem o meu olhar...
Lentíssimo perto do dia fluxo intenso
Que a carrega nos braços

(A máquina movimenta
Muitas pequenas engrenagens
Ao gerar a energia
Que mantém a vida toda inerte)

Meu estômago se apequena
Quase afunda em si mesmo
Ao vislumbrar, nos passos de som seco
O motivo do rio de ocupação incessante:

Todos,
Sempre,
Dia após dia
Tem algo,
Tem muito
Para fazer

Nem o cigarro de intervalo
Ou o futebol de quarta à noite escapam,
Partes da máquina de movimentar
O sentido da vida dos seres humanos

Passa mais um, passa outro
Já estamos além de mil
Saltamos à angústia
Meus sentimentos quase viram carros

Em meus olhos que teimam em negar
Serem otimizados, aferidos
Coordenados, limitados
Como semáforos da movimentada avenida


Tomo uma resolução
Ela me queima minhas entranhas
Como absinto (mas a sinto dentro de mim)
E a engulo, convicto de poder desvelar o fim:

Berro

Na parede de cada lar
Prisão ou monumento
No galho de cada enfeite ilusório
Um letreiro certeiro e luminoso

Aponta aos céus, que hoje estão azuis
Para falar a língua dos dias sem nome

O olhar da senhora a realizar convictamente
Seu cotidiano e divino trabalho
Depois do berro disse a todos
A mesma coisa...

Engoli o dia
Tudo quer dizer algo
Não para mim
Para todos

Do gim ao globo
È tudo um alvo,
Um ouvido tornado em flecha
Para nos abrir os orifícios da cabeça

Os poros da pele
Os canais nervosos do toque
Os rios do desejo
O prazer do movimento

A dança inebriante da verdade
Todo um corpo que sabe estar

E ouvir a noticia
De que nesse país,
Em alguma das ruas dessa cidade
Alguém morreu

A morte passou e deixou seu cheiro
A roupa de todos agora o carrega
E mesmo que não haja narinas que o captem
Não haverá sabão que o dissolva, e ele ficará ali

Pro inferno com os jornais
E com o linguajar dos jornalistas
Não falo de noticias

(elas estão no mesmo balaio
Em que tentam enfiar o cigarro e futebol)
A cidade canta sobre sentimentos
Na mesma medida em que os sufoca no formol

È como um derramado crepúsculo
Dourado-amarelo leitoso-transparente
Que como um véu cobre todos os prédios
Horários, compromissos e ruas

De todos os lugares se sente o cheiro
Do cabelo, das arvores dos bueiros

Todo um universo envolto e embebe,
Em uma só aura explicita
Que ninguém consegue
Ver, cheirar ou sentir

Perigo de explosão em terça a noite

Aparentemente não foi nada
Apenas mais uma explosão
Algo que acontece o todo momento
Em algum lugar que não aqui

Aparentemente não foi nada
Apenas um susto na noite
Um chamado ao telefone
Trazendo a prontidão para nossas escadas

Aparentemente não foi nada
Fiquemos em silêncio
E depois que o perigo passar
Voltemos a dormir
Amanhã ainda é dia de semana

Aparentemente não foi nada
Apenas um acontecimento
Que não será noticiado em jornal algum
Esquecimento anunciado
De um cidadão comum
Que num dia qualquer
numa decisão sem volta
trancou a porta e ligou o gás

Aparentemente não foi nada
Apenas a morte inesperada
Do vizinho de porta
Que numa terça a noite
Deu fim a sua solidão
Sirene que se perde
No intransitivo
Silêncio da meia-noite

Poço de Alucínia (II)

Vamos mergulhar no poço de Alucínia
sair de lá embriagados
Vamos sorver seus lábios loucamente
cOm o espirito finalmente liberado

Enlouquecidos voaremos
Pelo caos colorido parido pela Lua
Esquecidos da vida enfim
partiremos soberanos ao lado da verdade
que agora corre solta pela noite
livre louca nua

Pelos livre momentos sem memória
Matando a sede com sereno
Daremos um aceno ao cais vazio
Decaptando o rei supremo

Quando finalmente cansados e alucinados
Nos deitarmos em relva serena
Não mais seremos cegos e incoscientes
Acerca da cósmica verdade plena

se o vento vier

Tenho vontade de correr
E deixar que esse vento
Nos leve num súbito impulso
Nos lance no vazio sem percurso
Apenas para sentir nossos cabelos
Dançarem sob seus ritmos

Tenho vontade de correr
E deixar que esse vento
Nos leve num amar sem momento
O alento de brisa que assovia o encanto
Na nuvem de entregas
Em que a vida sem curso nos consumirá

Quando a tempestade de espantos
Num susto sem pranto
Vier derrepente
Para testemunhar
No entardecer sorridente
O desabrochar infinito
Do amor ao sol

verá
Até o amor
Desabrochar
Num eterno flutuar
de pétalas lançadas
ao fluxo
Brincante das águas

Presságio

um dia

desses de sol e brilho

ainda realizo
o sonho impreciso



de ser andarilho

nuvens II

não sei se nuvem
nada em mar desnudo
não sei se o vento
vem do próprio mundo
navega esse momento
segue mar adentro
que viver é muito fundo

no humor dos bixos

Sapo boi
não muge
em madrugada

espinho torto
restringe
o fluxo do orvalho

cotidianos dormentes
fazem brotar
erva daninha nas juntas

e relógio que escorre tempo
se enamora
em primaveras de calçada

enfim,
esse não negócio de tempo
é peleja pra coruja

quando pega de mau humor
em vias de anunciar
outono

nuvens

nuvens

inúteis

em tragos poéticos


a noite se descobre

epistemológica

hai-kai rural

Espantalho só

Vento soprando além

Vive o Chapéu