segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Poema para Abhay


Os ventos do Atlântico,
Tão imenso e magnânimo
Naqueles dias pressentia em sua maresia,
Nas escarpas de suas monções,
A eminente presença divina de um santo.

E personificado preparava-se
Para prostrar-se perante aos seus pés de lótus
Transformando a turbulência constante
De suas ondas sempre em dança,
Em uma lagoa que seria inexplicável
Para o capitão do navio
Que carregaria aquela grande alma

As marés do mediterrâneo se purificariam
E os deuses do Olimpo
Abençoariam o filósofo transcendental
Que cruzando suas águas
Iria revolucionar
O mundo que eles haviam fundado

Diante da presença refulgente
Daquele destemido devoto puro
Semideuses entoavam alegremente
E em êxtase
Hinos védicos e mantras celestiais
Para abençoar a travessia:
Estrada aberta em oceano e paciência
Determinação e devoção
Daquele renunciante que vestido em açafrão
Livre de toda a ilusão
Seguia rumo ao ocidente

Levando em sua bagagem
Tão simples, tão humilde
Apenas um valor em rupias
Equivalente a sete dólares,
um guarda-chuva, uma máquina de escrever
um baú de livros:
Arsenal transcendental de conhecimento profundo
Sobre a eterna verdade-absoluta (Sri Krishna)
E um coração imenso
Disposto a precipitar
Em torrenciais tempestades melodiosas
De misericórdia e benção
Todo néctar do amor
Contido na mensagem do Senhor Chaitanya
Toda a maravilha simples e elevada
Contida no cantar dos santos nomes do senhor

Enquanto as estrelas do céu de setembro,
Que sabiam desde há muito sobre a predestinação
Inscrita no mapa astral daquele vaishnava,
Refletiam-se seu brilho diamantino
No mar profundo e negro da noite
O destemido teve um sonho,
Via uma embarcação
Carregando todas as encarnações de Deus,
E dela o Senhor Krishna falou com ele,
Suas palavras mais doces que o mel
Mais reconfortantes do que o vento
No outono de Vrindavana:
“Não tema meu filho,
Tudo correrá bem, eu cuidarei de tudo”

Em sua mente pura e controlada
Apenas a obstinação
Em seguir com perfeição
As ordens e instruções
Dadas por seu querido mestre espiritual
Nada poderia desviá-lo,
Nenhum obstáculo
Poderia contê-lo,
E nem três ataques cardíacos,
À bordo do Jaladuta,
Abalariam sua fé inquebrentável

Todas as flores, nas cores loucas e imprevistas
De todas as primaveras
Daqueles tão auspiciosos anos 60
Eram tão somente uma homenagem
Secreta e barulhenta
Feita para sua chegada especial...

O florescer da juventude,
A melodia dos Beatles,
A virtuose de Hendrix,
Todas as buscas desesperadas por Liberdade,
Toda poesia irracional dos estradeiros,
Tão somente sintomas,
De uma transformação muito mais profunda
Arranjos de Krishna,
Para enfeitar o jardim
Antes da chegada de seu enviado

O ocidente não poderia continuar
Sendo assim tão chato e cinzento
Para receber o maior dos visionários,
O sábio sem precedentes,
O arauto definitivo do amor supremo
O servo dos pés de lótus de Krishna
Que carrega na mansidão do olhar
Toda a profundidade e lucidez
Da sabedoria milenar mais profunda e certeira
Já ofertada à humanidade,
Os olhares oceânicos
De todos os antigos
E imortais sábios poetas da criação,
Tais como Narada e Vyasa,
Passando por Madhva, Isvara,
Bhaktivinoda, Goura das Babaji,
Chaitanya e os seis Goswamis de Vrindavana

Derramavam lágrimas de alegria
Gotas de lótus,
Orvalho da alvorada frente à poesia
Tão indizível
Daquela missão transcendental

O ocidente,
Como a semente iluminada
De um lótus em meio lama
Como o amarelo de um girassol
Vivo apesar de coberto pela fuligem do trem
Finalmente poderia desabrochar
Perante os tão desejados
Raios da lua benção
Que aquele devoto,
Sua Divina Graça Abhay Charanaravinda Bhakativendanta Swami Prabhuapada,
Emitiria a cada passo e sentença

Proporcionando a revolução
Mais colorida e dançante
Que filósofo ocidental nenhum,
Dantes havia sonhado
Talvez apenas os poetas,
Em seus mais sublimes
Versos de amor e liberdade
Poderiam ter se aproximado

Uma revolução de amor,
De melodia
De pureza e devoção incondicional
À suprema Personalidade de Deus
Sri Krishna

Lá II


Susto
        desgosto
osso renovado por musgos

entre passatempos
        ressoa
o infinito transcrito no azul

todos em fila 
a louvar essa união

soam vozes
indiziveis, 
o dia se revela lúcido

letras eletrônicas
a poesia vindo de algum rio
o fluxo do ser em vida
eternidade para além do corpo
passageiro no itinerário
temporário rarefeito
esse vagão da ilusão

porosas percepções
o mundo moderno não vê
suas limitações
que percebo em mim

encontramos respostas 
seduzidos pela residente
verdade absoluta dentro do coração

milionésima parte de um fio de cabelo,
a alma, essa viajante
gorjeia em uma árvore
abstrata metáfora de prabhupada
concreta situação sobre a estrada da vida
desfrutando 
frutos maduros
iludimo-nos
sobre as possibilidades do ar

o voo nos espera

a poesia me seduz, 
e enamorado lanço palavras na tela luminosa
eterna e lancinante
ela vagueia pela boca dos poetas
linguas, lambidas, loucuras
disfarça-se daquilo que não é
chama-o de Maya,
esconjuro-a mas ela se revela
dança, canta da ritmo ao fluxo dos planetas
ao fluido das placentas 
o ventre de novos nascimentos 
daquilo que nunca nasceu e nunca morrerá
a poesia, 
a presença perene daquilo que é real
em meio a um festival de intempéries confusas
feira livre de palavras cotidianas
olá, como vai, bom dia 
olhares compromissos tédio poesia
a necessidade a utilidade
o concurso perdido 
a concretude da matéria
sobre as artérias pulsantes dessa intangível
vontade de ser para sempre

por detrás da nebulosa,
nobre fato, noite intacta
tudo luminoso
lá onde a refulgência é multicolorida
de onde viemos, pra onde vamos
o por detrás de tudo
o porém do absurdo
essa vontade de escrever
e de te encontrar
e te amar como se nada tivesse fim

nossa condição é perceber
que não encontraremos aqui 
aquilo que nos preencherá
para além de todo o vazio 
apenas Lá! apenas Lá!