segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Algo além da Imensidão

E é assim que o pôr- do-sol é belo por tudo aquilo que nos faz perder"

Antonin Artaud


Despedidas,

Sol que nasce no fim da tarde

como amigos reatando

Laços sinceros de amizade


As nuvens,

nomades do tempo

do céu do instante

Vão sendo coloridas...


A luz sob suas imagens de ar

A obviação do óbvio

no imanente lampejar do vazio:


“Cala-te mente,

nada senão agora

aqui para além das palavras

contemplo”


Torno-me o por do sol

suas cores, seus devaneios

sua magnitude de silêncio

seus múrmurios ecoando mistérios


Sou todos os prédios

e muito mais esse

referente colorido e transtornado

de nosso amor em mutação


um poema que fosse

mais ágil do que a morte

mais ameno que a noite

algo menos que um pensamento

algo além da imensidão

Ponteiros da Tranquilidade

Cotidiano da ciência
devolve tiro no pé.

Por entre dentes
de concreto e horizonte,
Límpido Azul
em tons de branco
almejando os prazeres da cidade

Cansado de ilusões
a noite se pensa através de mim
Vejo-a vestindo-se
sem pressa
para seu encontro sem estrelas

A cerveja quente
Ameniza
o pesar inexistente

Num desfile de incertezas
O amor tropeça no cotidiano,
Refaço meus planos
e resignado
tento acertar
os ponteiros da tranquilidade

Súbito Temporal

Sinto vontade

de escrever um poema

Sinto vontade

de ligar pra minha vó


Nisso me lembro

de uma grande alma

atravessando um oceano só,

em um navio cargueiro

com apenas sete dólares,

com um consciência clara

e um baú de livros


o céu se enche de nuvens

até o vazio do azul

parece nublar-se


Fica roxo o céu da tarde

trovões estremecem

e se inicia um temporal

Sonho Sonho

Sonho que se sonha sonho


e o sol risonho vem nos despertar.


Sonho que se sonha aurora


e um som lá fora enlouquecendo o ar


Sonho que se sonho sonho


e o bom do sono é nunca acordar


Acaso sonho que se sonha


sonha?


ou sonho sonho


se desfaz no ar?


Percepções II

Como uma fagulha tudo se desfaz

viajo em segredo no fechar de olhos

tudo pulsa tudo age tudo vibra

acontece e se esquece de dizer que é


se dispersa inconsequente e sonha

em rua livre o domínio da iluminação sem graça

aceita tudo num desejo mudo

e percebe o mundo num salto sem volta

Percepções

A vida trêmula ao teu redor.

Entre mudanças e aconchegos

Já quase não te lembras

Da lamuriosa vertigem das fendas

Nem do auspicioso vagar dos caminhos.

Se perde entre premonições

E num espanto

Segue coagulando versos

onde o abismo anula o som


Patética Estética

Escrevo em tom experimentalista

ás vezes até

de modo óbvio,

concreto como aroma na floresta

às vezes disperso

num traço louco de serpente

Sonhado por um pintor bêbado

que tivesse desvendado as cores do sol


Penso sabendo pensar

ser efêmero como incenso

escrevo contando criando

buscando o não pensar

O inesperado andando

sobre as trilhas do que escreverei


Tento escrever poemas

que só atingem

o patamar de fragmentos.

Contento-me, afinal

os momentos são também impermanentes

nada é assim tão congruente

e as gotas de chuva

não mais do que gotas de chuva


Assim precipito-me

alternando-me sazonalmente

Variando entre tormento e inspiração

entre sonhos de outono

e vertigens do verão


Das rimas ao assimétrico

modo de pensar

Da canção ao hermético

sonho de criar


Sei que sou patético

mas algo nas cores do fim da tarde,

nas nuvens adensadas de chuva e de azul

na indiscriminável face do vento

no indescritível gosto dos lábios da amada

tão doces tão ácidos

Algo me diz levemente

como num tácito poente

que apesar deste sentimento

ocre de patético, sussurradamente

algo me diz isso tudo é poético

O mar da Paixão

O mar da paixão

é uma entrega sem horizonte


um vôo

de asas trágicas e em chamas

Sobre um céu de escolhas efêmeras




O laranja da canga

Tarde de um dia

quase qualquer,

um dia de amor


Na parede elefantes dançam

Mantricamente

aos embalos do vento

A canga laranja

na mandala do tempo


Enquanto isso no sofá

listrado em diferentes tons

algo entre tangerina ardente

açafrão e om


Nos lançamos em imaginativas

Leituras em meio à fumaça


Devoção Transcendental

Krishna se faz presente

através de uma canção

Néctar transcendental

Semente

A luz além da ilusão


Krishna não cessou de ser

afinal ele é o não-nascido

mil pétalas de lótus

reluzindo sob seus passos


Galáxias acompanham-lhe sorrindo

Enquanto melodiosos devotos

Entusiasmados

carregam flores de alegria


Afinal ele é o tempo

o próprio infinito

A poesia de um verso bonito


Em um tema sonoro

Descobre-se o ouro

O próprio momento

Verdadeiro tesouro


No equilíbrio do cosmos

No fundo do azul

Seres espirituais

Fagulhas eternas

Reunem-se sob sua misericórdia


Em uma casa Fraterna

Nesta Presença Divina

Pratica-se humildemente

devoção transcendental



Do Grande Vazio

Quero-queros

gorjeiam em berros

protejendo seus ninhos


o sol da manhã,

se levantando entre colinas

colore a imensidão dos caminhos


Mais um novo dia nascendo

longe da cidade

o esplendor é sempre

mais evidente


Verde ancestral

por entre os escombros

a vida se renova

Verde tapete

na lâmina d'água

a vida caminha


Deságua no som das àrvores

com seus galhos balançando

quase que o vento

mostra sua face

A sanga escorrendo

do ventre da terra

a água vertendo

do grande vazio,

um olhar que revela falta



O eu cotidiano desperto

O que esperava

de um trêmula promessa

Nem mesmo os ventos

poderiam dizer


Experiência vital somente

semente de aperceber,

um modo de buscar a vida

Sapateando em diferentes

ritmos distintos de ser


apostando em indesperadas

perguntas que desmontam

desmantelam desencontram

o eu cotidiano desperto

Inventar o Mundo

Amar detalhes

do óbvio alerta

ou despertar

de um sonho


de ser humano

(doce ilusão)

de ser estrada

(ácida dádiva)


por dar risadas

e embalados pelo nada

inventar o mundo

Nos Olhos da Harpia

Quem já cortou

a palavra de um poema?


Quem já perdeu

tropeçando

o tema da vida?


O azul carpe diem dos pássaros

é nos olhos da harpia

o céu a procura

A visão da poesia