sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Conto Experimental

“Me diga qual é o seu problema...” Disse o louco logo após a minha entrada.

-O nada e a crença – respondi.

Minha voz soou de uma maneira forte apensar de timida pelo aposento vazio, enquanto sentia meus lábios ressecarem pelo fato de pressentir mais um fracasso. Ao observar as paredes comidas pelo tempo e pela infiltração mal cuidada a sensação de que ali era o local onde o nada me levara era ainda mais forte.

-E o que o faz pensar que eu poderia ajudá-lo em tal problema?

-É que já tentei de tudo, psicólogos, ideologias, sexo, drogas... Para mim nada faz sentido por mais de um ou dois dias. Pensei que alguém com olhos diferentes para as coisas pudesse me ajudar a aceitar tudo isso...

Logo após de me confessar de uma maneira que eu nunca havia feito, pois sempre escondia o vazio em floreios poéticos ou notas musicais, me senti ainda mais idiota. Como um morador de rua visivelmente bêbado, com histórico de anos em hospícios, poderia me ajudar? Essa situação só me revelava a crueza de tudo aquilo, afinal ele não poderia. Ao mesmo tempo que, dentro de toda a minha podridão, eu sabia que ele era o único capaz de me empurrar para o caos. Pois em no máximo quinze minutos eu não mais acreditaria que ele seria capaz de tal proeza, em quinze minutos não acreditaria nem mesmo na idéia de ajuda. Apenas o vazio, era o que restava, ele me ajudasse ou não pois o próprio "não" era uma não saida válida.

-Para poupar tempo- disse o louco enquanto tossia um pesar de dentro do peito- digo que você não passa de um covarde, e que não ajudo covardes. Você não tentou nada, esse é o seu problema, nem o nada você tentou... E eu sou louco por que tentei tudo, até mesmo a crença. Sendo assim deixe-me com meus ratos. Eu não posso ajudar por que não tenho problemas, muito menos com a crença e com o nada, acredito na companhia de meus roedores e nas minhas vísceras e o nada não passa de um devaneio de mauricinhos covardes.

O louco me revelava assim minha própria fraqueza, o porquê de eu não ser o que queria. Não disse mais palavra alguma, virei as costas e sai da casa imunda e abandonada, ao abrir a porta e dar de cara com um árvore como todas as outras, verde e iluminada pelo solitário poste amarelo, senti que encontrara o sentido que me incomodava... Tudo aquilo que meus olhos tocavam agora tinha sentido, nada mais do que cinco metros ao meu redor. As ilusões continuavam sendo ilusões, e todas as crenças o eram, mas o nada, naquele momento, enfim nada se tornou.

Ao dar meus primeiros passos naquele momento eterno de minimalismo transbordante de significado, senti que não mais procuraria ajuda.

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