domingo, 29 de março de 2009

Solidão em compasso I

(à Carlos "Tucano" Eduardo)

A luz amarela
escorre da lâmpada
para iluminar
a mim
e meus instrumentos poéticos

Enfim
Após instantes intensos
de angústia
Posso escrever

Chove gravemente
sobre o pôr-do-sol
Que resistiu
sereno
Para ir embora
apenas

Saí de casa
quando ainda não chovia
Até meus cachorros,
sempre tão afobados
entenderam
a seriedade dae meu olhar em agonia

Saí para o jardim
Pois nada me restava

Todos os meus livros
pareciam desinteressantes
Todas as experiências
não valeriam a pena

Nem o violão me seduzia,
Jogar minha angústia sobre ele
seria uma desfeita
E não havia nenhuma paixão
para ser cantada

Desta vez
Sentar e meditar
Seria como um tiro
Na própria cabeça

As cores de um pôr-do-sol torto
me conveceram.
Cinza a nuvem de anúncio chuvoso
Azul o que permanece
Púrpura o crepúsculo
Visto por entre casas de concreto
Púrpura a luz do poste
Começando a se aquecer

Foi a chuva que garantiu
Uma solidão proiveitosa
poética e minha.
Seu barulho
escorrendo em meio ao vento gelado
Cantava a existência da vida
apesar de tudo

Um Baden-Powell
de início de noite
Narra em um compasso
A tarde que se inicia
em silêncio,
banha-se em jazz
e faz nascer,
escondida pelas nuvens,
a lua sob anunciação da bossa nova

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